O Dilema das Taxas: Por que Você Ganha Pouco Investindo, Mas Paga Muito ao Pedir Emprestado?

Compreenda como as taxas de juros se formam e porque há essa disparidade entre investimentos e crédito.

Chagas Silva, CEA

5/16/20244 min read

O mundo financeiro é um ecossistema complexo onde os investidores buscam maximizar retornos, enquanto os mutuários procuram minimizar custos. No entanto, há um paradoxo intrigante: os investidores geralmente ganham pouco com seus investimentos, enquanto os mutuários pagam taxas consideráveis ao pedir empréstimos. Vamos explorar por que essa disparidade ocorre e como você pode navegar por esse dilema.

Investidores: Por que Ganham Pouco?

  1. Baixas Taxas de Retorno Os investimentos convencionais, como títulos do governo e contas de poupança, oferecem retornos modestos. No Brasil, a taxa que servirá de base para qualquer investimento em títulos (Públicos ou privados) é a TAXA SELIC. Essa taxa é fixada pelo Governo Federal por meio do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central). Investidores, geralmente, gostam quando as taxas de juros estão altas (acima dos dois dígitos... 10%aa) e isso incentiva a poupança privada. Entretanto, na contramão, desestimula investimentos. Empresas que precisam tomar recursos emprestados passam a investir menos. Então, meu caro leitor, para o crescimento da economia, quanto menor a taxa de juros, melhor e é isso que o Governo busca.

  2. Assimetria de Informações e Poder Investidores individuais têm acesso limitado a oportunidades de investimento com retornos mais altos. Instituições financeiras têm mais poder de barganha e impõem taxas de juros mais altas em produtos de investimento. Por isso, investir por meio de fundos de investimento acaba sendo uma boa alternativa tanto em função de melhores condições de rentabilidade quanto pela diversificação do risco. Instituições financeiras também captam recursos do pequeno investidor diretamente através de produtos como CDBs, LCIs e LCAs.

  3. Necessidade de Diversificação e Risco Diversificação é essencial para mitigar riscos, mas muitas vezes significa aceitar retornos mais baixos. Explorar opções de investimento mais arriscadas pode oferecer retornos potencialmente mais altos. A diversificação de riscos em investimentos financeiros é como se equilibrar em um tripé que tem por bases: segurança, liquidez e rentabilidade. Escolha dois deles e seja feliz com sua escolha. É improvável conseguir unir os três em um único investimento, mas é possível fazer isso por meio da diversificação, que significa montar uma cesta de produtos com características distintas que combinam as três características.

>> Agora pense comigo! Para dizermos que as taxas de investimentos estão "altas" precisamos de um referencial certo? Altas em relação ao quê? E a resposta vem na sequência: "em relação às taxas dos empréstimos".

Mutuários: Por que Pagam Muito?

  1. Altas Taxas de Juros Empréstimos pessoais, financiamentos e cartões de crédito geralmente têm taxas de juros substanciais devido ao risco percebido do mutuário e às despesas administrativas. Abaixo segue, de forma simplificada, a lista de itens que compõe a formação da taxa de juros do seu empréstimo:

    • Funding (Custo de captar junto ao investidor): Os bancos captam recursos, como falamos a pouco, e emprestam esses recursos na outra ponta. Aos "emprestadores" se dá o nome de superavitários e aos tomadores denominamos deficitários. Esse processo é chamado de intermediação financeira.

    • Custos Administrativos: Para funcionar, as instituições financeiras precisam manter à disposição de clientes estrutura física, empregados, segurança, serviços terceirizados e toda uma infraestrutura tecnológica de alta complexidade. Uma fração desse custo a partir da concessão de crédito.

    • Impostos: Sobre a concessão de empréstimos há incidência de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

    • Risco de Crédito (Provisão para Devedores Duvidosos): Cada cliente recebe uma nota que vai de "A" a "H". Essa nota recebe o nome de rating. Para cada nota, a instituição financeira é obrigada legalmente a guardar, em conta de reservas no banco central, uma parte do crédito concedido para fazer frente ao risco de inadimplência.

    • Margem de lucro: parcela adicionada à taxa de juros que representará o possível lucro real da instituição financeira.

      • Resumo: Taxa do empréstimo = (Funding + Custos Adm. +  Impostos + Risco + Margem de Lucro)

      • SPREAD = (Taxa de Empréstimo - Taxa de Capitação)

      • Então se lembre: "Spread não é LUCRO, mas o lucro está dentro do spread". Quando o banco capta a 0,5%am e empresta a 2%am ele não tem 1,5%am de lucro. Precisa retirar todos os demais custos para saber qual é a margem de lucro. Antes que se faça a pergunta: "E por que o lucro dos bancos é tão alto?". Eu te respondo: Porque ele negocia com milhões de pessoas e, mesmo que a margem em cada contrato não seja grande, tem alto volume de negócios e, portanto, resultados financeiros expressivos.

  2. Assimetria de Poder na Negociação Mutuários têm menos poder de barganha do que os credores, resultando em taxas de juros mais altas. Estratégias de negociação podem ajudar a obter termos mais favoráveis.

  3. Impacto das Políticas Governamentais As políticas dos bancos centrais influenciam as taxas de juros de referência, afetando as taxas para empréstimos e investimentos.

Navegando no Dilema das Taxas

  1. Educação Financeira: Educar-se sobre finanças pode ajudar na tomada de decisões de investimento e empréstimo mais informadas.

  2. Exploração de Alternativas: Considere opções de investimento mais diversificadas e potencialmente arriscadas (Sempre respeitando seu perfil enquanto investidor). Compare ofertas de empréstimo de diferentes instituições financeiras.

  3. Negociação e Melhoria da Saúde Financeira: Negocie termos de empréstimo mais favoráveis e melhore sua saúde financeira para reduzir o risco percebido pelos credores.

O dilema das taxas destaca a complexidade do sistema financeiro global. Compreender as forças por trás das taxas é crucial. Educação financeira, exploração de alternativas e negociação são ferramentas para enfrentar esse desafio. Ao adotar uma abordagem informada, você pode maximizar seus investimentos e minimizar seus custos de empréstimo.